terça-feira, 24 de janeiro de 2017

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Verdade artificial

A verdade é um diamante por lapidar. A mentira carvão em bruto. Substância idêntica cristaliza em instantes diferentes. O por do sol a norte ou a sul. Assim é o sentido das palavras. Peneira da consciência. Flor carnívora que se alimenta dos insectos viscosos, equilíbrio do ecossistema da semântica. Pregos frisantes, carimbo a sangue frio, são as verdades. Visão turva pela massa de ar tropical, são as falsas fantasias que nos fazem deambular pelo mundo dos sonhos. Uma oponente flor, imitação perfeita dos paradisíacos jardins tropicais, tão falsa quanto bela. São as orquídeas artificias que alimentam o deslumbramento.

terça-feira, 4 de março de 2014

Trânsito

Há dias que o melhor é estar calada. Há dias que o melhor é estar de mãos atadas. Há dias assim. Também há dias que tudo faz sentido. Por esses dias, o sentido faz todo o sentido. Noutros, o sentido invertido, contra mão, proibido, inversão de marcha, stop, cedência de passagem... faz com que o sentido de trânsito seja uma tortuosa via sacra. Estou farta das rotundas! Quero vias rectas! Também quero estradas bem sinalizadas para saber por onde passo e saber quando é melhor sair! Este trânsito sem civismo não dá para mim. Mas tenho de sair. Se a vida não está mais fácil então terei de ficar mais forte. Ainda mais. Muito mais. Buzinas porque não te deixar passar? Nem quero saber... já deixei passar uma vez e fizeste marcha atrás: bateste-me no carro! Acontece... tudo bem! Eu tenho seguro! E tu também! A declaração amigável não está fácil... os dados não estão correctos! Três versões. Três histórias. Uma minha, outra tua e a verdadeira. Lavo as minhas mãos. Estou de consciência tranquila!

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Tempo

O tempo corre,
Corre à velocidade do tempo
Esse tempo martirizante
De tempo que dá tempo
Ao tempo que nunca passa

Quando reparei
O tempo já tinha passado
Esse tempo que nunca passava
Deu lugar a um tempo
Que nunca gostei de passar

Mas queria que o tempo voltasse
Porque no fundo ansiava
Pelo tempo que nunca chegou

Esse tempo nunca chegou
E mesmo que chegasse
Eu mandava-o dar um tempo

Mas tempo que é tempo
Nunca vai chegar nem voltar...

sábado, 7 de dezembro de 2013

Luz que resiste

O vento rasteirinho apagou a luz que outrora resistira. O foguetão perdeu-se no cosmos infinito. Estilhaços colecciono como troféus. A dinastia do terror, instalou-se. Oh! Que magia negra... malditos sejamos os demónios que insistem nesta perseguição! Dilacerada, lá vou eu a cambalear com a esperança de despistar a macumba de babel. O brilho dos meus olhos, estranhamente permanece iluminado. Utopia que continuo a alimentar. Acredito desesperadamente no Deus que foi castrado. Algum dia será libertado?

quinta-feira, 27 de junho de 2013

JANGADA

Não é fácil ser jovem e carregar nas costas o peso dos sonhos quando a vida quer fechar portas. Mas quando a noite desce, a lua pede às estrelas e elas riem-se para mim e nesse momento os meus olhos brilham. No entanto, não passa de uma ilusão, um simples deslumbramento, pois ao amanhecer o corrupio da cidade volta sob a forma de selva humana! Quando me olho ao espelho vejo em mim uma guerreira, com força de viver. Sinto-me como na Antiga Roma, no centro do palco do coliseu, rodeada de bancas apinhadas de gente que berra a minha vitória e a minha desgraça. Mas como uma verdadeira gladiadora encho o peito de força e sabedoria e encanto as feras!Um dia, espero subir a grande escadaria de Roma, sem nunca atirar a moeda da sorte para a fonte de Trevi. Não vale a pena descurar a realidade, porque no fundo, estou numa pequena jangada frágil e trémula. Ao avistar o longo percurso do Rio Amazonas, sinto um arrepio na espinha, porque ouço o barulho do vento a abanar as árvores, como que um aviso de perigo, mas ao olhar para o céu avisto uma estrela cadente que rasga o céu com um raio repentino e luminoso, inundando a floresta e soprando a calmaria da maré vaza... No dia que terminar essa expedição, vou ter as mãos cravadas de chagas. Nessa altura, quando as nossas almas se comunicarem num simples olhar, sei que me vais dar um abraço pelo orgulho que tens em mim. Porque a vida é uma bíblia de alegrias e tristezas, não deixemos a nossa alma ancorada num porto qualquer, soltemos as amarras e vamos viver o milagre da vida, para que o barco não fique ancorado numa rocha qualquer...

sexta-feira, 17 de maio de 2013

PENSAR SEM PENSAR

Quem me dera ser estóica. Quem me dera viver cada dia sem pensar no futuro. Quem me dera ser um cavalo selvagem que galopa nos planaltos verdes do arco-íris a iluminar o seu caminho, que relincha e salta sem saber porquê, sem perceber porquê sem dizer porquê.
As suas crinas ondulam em comunhão com o vento... e ele continua a galopar... galopa, galopa, galopa... Ah, quem me dera ser um cavalo selvagem e não perceber a vida, não perceber nada de nada!